Alisa Freyndlikh em Stalker (1979)
Amor, a partir de Tarkovski
O sonho dele é o meu, disse-me
apontando as paredes com rios
dentro – ou seriam mares
porque respirávamos a salgada cicatriz
da ferrugem nas portas arrebentadas?
As paredes levadas pela correnteza,
o teto desabando enquanto dormia
para acordar soterrada, gritando,
gritando grávida de um pesadelo
em que não éramos nascidos.
O inverno fratura suavemente os ossos.
Na cama os lençóis enregelados.
A aragem do vazio na carne.
Os cachorros latindo enquanto uivo
metálico de uma locomotiva naufragada.
Por entre os escombros, erguia
para o luar os olhos esfacelados, para
a luminosa e nula aura de insônia –
a fria dor do mármore feito carne
e o delírio do mármore feito ardor.
'Perdi a memória do cartão', ouvi há pouco.
É por isso que as melhores memórias se guardam nos olhos, nos ouvidos, na pele. Sobretudo na pele.
(Espécie de conselho à pequenada.)
Um maravilhoso e acústico e não sei se já disse maravilhoso Jack White no Jimmy Fallon há três dias.
Foto: Clara Umbra
Alívio: Dois dias de setembro foram suficientes para varrer do feed do facebook frases com a chalaça 'agosto / a gosto'.
P.S. Não, não a li escrita por amigos meus, tudo gente de bom gosto.
Há buracos na Segurança Social, buracos em instituições bancárias, buracos em empresas, buracos em partidos políticos... De quem é a culpa? Do ozono. Foi o primeiro a lembrar-se de ter um.
(Vistoso e mediático, vá!)
Tenho tanto em comum com a Caixa Geral de Depósitos: tal como ela preciso de uma recapitalização e tal como ela chumbo em testes de stress (se mos fizerem).