Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

Footloose

O Presidente da República atirou com um sapato ao Primeiro Ministro via Assembleia da República.

[Notícia a carecer de confirmação]

publicado por Clara Umbra às 21:58
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Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2008

Conhece-te a ti mesmo - enfeites de árvores de Natal

Se tens cinco pontas e nenhuma por onde se te pegue, deves ser uma estrela.

publicado por Clara Umbra às 23:17
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Conhece-te a ti mesmo - prefixos

Se as pessoas apreciam não só as tuas tiradas mas também as tuas retiradas, és um "re-".

publicado por Clara Umbra às 23:17
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Conhece-te a ti mesmo - meios de transporte

Se a tua vida passa a correr e quase sempre no escuro, não haja dúvida de que és um metro.

publicado por Clara Umbra às 23:16
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Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2008

Nocturno (parte final)

Depois, passa à fase seguinte. Selecciona, numa operação que demora algum tempo, as nove músicas que intimamente já escolheu e em cujas letras se encaixam, por alguns segundos, mais raramente por alguns minutos, partes do discurso de cada um dos pacientes.

O Dr. V. conhece tão bem o homem-matéria com significado que sabe perfeitamente o que dizer e fazer para que cada paciente diga as palavras de que ele precisa, quando não as diz espontaneamente. As palavras que se encaixarão numa determinada letra em que está a pensar, naquele preciso momento, durante a consulta. Não é difícil:  todas as pessoas dizem as mesmas coisas e são terrivelmente previsíveis – costuma dizer. Quando necessário, o Dr. V. vicia um pouco o jogo, como já se viu: basta um ligeiro jeito na mão habituada para que o dado caia com a face desejada para cima.

Muito esporadicamente, acontece algo que lhe agrada de forma particular: alguém foge à letra em que ele pensara. Os lábios da presa fogem ao controlo do predador, devolvem-se ao seu legítimo proprietário e conduzem o médico para músicas diferentes daquelas em que ele pensara inicialmente.

 

Agora, o Dr. V. está a fazer correr, no computador que está à sua frente, toda a aplicação que vem construindo há anos e anos: mais de vinte mil rostos, que cantam, num playback casual, centenas de músicas.

Milhares de rostos a exprimir todos os sentimentos do mundo, um puzzle da humanidade e da música, um puzzle do homem-matéria com significado, um texto gigantesco de palavras que ele acomoda e faz funcionar.

A última contribuição é a da mulher que queria ser um lápis, mas eis que surge um desses agradáveis contratempos. No movimento dos seus lábios, não se encaixa, afinal, a música que supusera ser a mais adequada. Antes mesmo de ter tempo para se preocupar, porém, ocorre-lhe o óbvio: revê o excerto do filme e confirma que se encaixa perfeitamente o refrão da música que passou a tarde a assobiar: Someone to watch over me.

Definitivamente, as pessoas são mesmo muito previsíveis – conclui.

publicado por Clara Umbra às 21:45
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Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008

Nocturno (tudo indica que é quase quase a parte final)

É preciso dizer que o Dr. V. é um bom médico e os pacientes consideram-no atencioso, bondoso até, e competente. Mesmo que muitas vezes lhes pareça alheado e distraído, a distracção não é do doente, mas do homem, como o professor se pode distrair do aluno e continuar centrado no erro que ele comete – costuma dizer – e tal parece-lhe perfeitamente justificável. Afinal, a ele sempre lhe interessara apenas o homem enquanto matéria significante.

Como ainda naquela manhã, quando perguntara a uma paciente se ela desejava morrer. Juraria que ela lho tinha dito, apenas porque a letra da música que ouvia naquele momento dizia essas palavras. As palavras estavam na letra da música e passaram, magicamente, para o movimento dos lábios feito pela mulher, onde se vieram encaixar com rigor, logo, de certa forma, ela disse-o.

Jorge V. passou o dia no centro da cidade, andando de um lado para o outro e sentando-se, ocasionalmente, nos cafés, perdido no seu mundo interior, perpendicular à realidade. Encontrou o álbum que procurava – Live in Tokyo; encontrou um ou dois conhecidos com quem falou amavelmente e em quem deixou a forte impressão de que é um homem bom e um médico competente, como eles próprios, aliás. Dir-se-ia que quem visse esses homens a conversar não os distinguiria, nenhum traço individual, nenhuma marca de carácter, os evidenciava – nem uns dos outros, nem do resto dos homens de toda a cidade. 

Junto à noite, regressou a casa.

 

Fechado no seu escritório, o Dr. V. dedica-se, agora, à tarefa que diariamente o absorve há mais de quinze anos.

Reproduz no computador as filmagens que fez aos nove pacientes que recebeu nesse dia. Grandes planos dos rostos, quase sempre. Dos pequenos filmes, selecciona alguns pedaços – os bons, os que servem – e apaga os restantes. Como se estivesse numa operação, podemos dizer, a separar o membro saudável do menos são.

(cont.)

publicado por Clara Umbra às 00:04
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Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2008

Nocturno (parte D)

Quando o jovem Jorge V. decidiu estudar Medicina, não o fez com a intenção de vir a salvar ou a curar quem quer que fosse. Não pensava sequer no tempo posterior à conclusão dos estudos. O que o jovem Jorge V. queria era conhecer o homem. Conhecer o homem enquanto matéria que significa. Conhecê-lo por dentro, a fundo, saber tudo o que o constitui e como todos os constituintes se relacionam de forma a produzir esse todo que é o homem, que vive e respira e se move e pensa e se emociona. Muitas vezes ele dizia que queria ser como o estudioso da língua que conhece a fundo uma língua natural, que conhece cada som, cada letra, a forma como se combinam para constituir uma sílaba e uma palavra, a forma como as palavras se combinam em frases, o modo como as frases se combinam num texto, a relação entre todos os textos de uma língua, e destes com os textos de todo o mundo.

Quando completou o seu curso, porém, e de forma particular no estágio, apercebeu-se de que havia coisas que lhe faltava perceber no homem-matéria. Queria conhecer a evolução de um homem, determinado, ao longo do tempo; conhecer as reacções dos homens ao que ele, homem também, mas do lado de cá, lhes fazia, saber que efeito poderia ele ter nessa matéria que durante anos estudara.

Assim, tornou-se médico. Como o estudioso da língua se pode tornar professor. Para ver a sua matéria-prima viver. E errar.

(cont.)

publicado por Clara Umbra às 02:26
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Este é um blogue de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência. Ou fruto da imaginação do(a) leitor(a) - o que é bom.

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