Passei há pouco por uma mulher que estava à janela, mas em vez de estar na posição habitual – pés provavelmente no chão, cintura à altura do patamar inferior e cabeça próximo da parte superior da janela – estava ao contrário (os cabelos desafogados no patamar que habitualmente endurece os cotovelos), o que faz muito mais sentido quando se quer observar as estrelas e escolher uma ou duas para apanhar.
Um dia, ele chegou a casa e viu o seu peixinho no fundo do aquário. Retirou-o e com a ajuda de um garfo e de uma faca abriu-o na bancada da cozinha. Separou as moedas, os clips, e encontrou um pequeno papel enrolado, que se apressou a desdobrar: era o testamento do pequeno animal. Deixava tudo o que tinha ao seu proprietário. Emocionado, o homem teve, nesse momento, a certeza de que o afecto era recíproco.
Ter um peixe em forma de nenúfar à tona num aquário tem múltiplas funções: o homem chegava a casa e era lá que punha as chaves; a mulher-a-dias colocava lá os clips que encontrava quando andava a aspirar; a água punha à sua sombra as partes mais brancas em dias de sol forte.
As conversas num dos círculos que frequentava versavam o tema-filhos: comida, cocó, chichi, passeá-los, ensinar-lhes as coisas básicas e despesas com médicos; noutro, o tema-animais domésticos: comida, cocó, chichi, passeá-los, ensinar-lhes as coisas básicas e despesas com médicos. Ele, porém, apenas tinha um peixinho verde, à tona num pequeno aquário (o peixe morrera, mas ele mantivera-o lá porque lhe lembrava um nenúfar).
desarrefecer (v. tr. e v. int.): o contrário de arrefecer, sem atingir a temperatura do aquecer.
Ex.: 15, 16, 17ºC... os dias têm aquecido; as noites, porém – 5, 6, 7ºC – , apenas têm desarrefecido.
V. também desesfriar.
Léon esgueira-se por uma janela para o quarto de Anna e durante quatro noites vigia amorosamente o seu sono, sem que ela o saiba. Na quinta noite ela respira cada vez com mais dificuldade e, sem conseguir acordar por causa dos calmantes, começa a sufocar. Ele pega numa faca de cozinha e abre o seu próprio peito para lhe dar, a ela, a sua faringe, a sua laringe, a sua traqueia e os seus pulmões.
Era uma vez um homem que tinha os braços tão compridos que pôr os braços ao longo do corpo não era força, era expressão.
Tive de me inscrever no grupo da escrita criativa, o da criacionista estava cheio.