Depois da experiência positiva de duas caixas com brinquedos de ovos kinder que não ficaram mais de duas horas à porta de casa, decidiu que passaria a deixar no hall do prédio, em vez de as levar para o lixo, coisas que ainda estavam em bom estado de conservação e aparentavam boa forma. A experiência foi de tal modo gratificante que rapidamente passou a ter uma grelha onde registava o tempo médio que as coisas demoravam a ser retiradas e onde as rotulava – bem de primeira necessidade, utilidade doméstica, roupa... – para poder chegar, um dia, a conclusões que não fossem precipitadas. Em breve conseguiu estabelecer teorias kuhnianas de alto coturno... apenas precisava de que algo de verdadeiramente grande pudesse confirmar ou infirmar as suas proposições. Então resolveu deixar lá o marido; como esperava, ele não ficou mais de cinco minutos sem ser levado – era um excelente partido! – , o obstáculo foi encaixá-lo numa das classes disponíveis: bem de primeira necessidade, utilidade doméstica, roupa... Morreu louca, rodeada de papéis, cálculos e chávenas de chá verde sem encontrar a solução. Quem pratica a caridade com coração impuro não merece outro destino.