Sobre André Bernardes se escreveu, por estes dias, que há poucos dados biográficos porque o autor sempre procurou proteger a sua privacidade, mas a questão é que, aparentemente, ele não tinha biografia, se exceptuarmos a casa caiada, os coentros e os medicamentos (nos últimos anos da sua vida); todos juntos não servem para construir uma tábua que se veja – uma de acontecimentos irregulares e notáveis.
Morreu o escritor André Bernardes, que também publicou livros – em número consideravelmente menor – como Domingos Rebelo, João da Silveira e Josefa Gresbante. Nos meses que antecederam a sua morte foram concluídas traduções da sua obra em onze línguas diferentes, uma dissertação de mestrado sobre a predilecção do escritor – na criação dos seus pseudónimos – por nomes de pintores portugueses do séc. XVII e duas teses de doutoramento: uma sobre a presença da memória nas primeiras obras e outra sobre a identidade nacional nos últimos romances publicados.
André Bernardes, que na verdade se chamava António Reis, passou os seus últimos meses de vida a caiar uma pequena casa que tinha à beira-mar, a tentar que os coentros que insistia em semear no seu quintal vingassem, a escrever o seu 18.º romance e a iniciar um novo tratamento para artroses, que incluía ibuprofeno, diclofenac, sulfato de glucosamina (na dose diária de 1,5 gramas) e hialuronato de sódio (em pequenas doses difíceis de quantificar).