Ainda em relação ao cânone, e pensando por exemplo em Gabriel García Marquez, André Bernardes escreveu pouco: dois dedos de livros (isto em unidades de medida de conversa). Ao contrário do mestre colombiano, o fantástico pouco assoma na sua obra: prodígios só mesmo os humanos.
*Dra. Temperance Brennan
E em relação ao cânone? Podemos afirmar que André Bernardes não foi um Hemingway: ninguém se atreve a adivinhar-lhe uma biografia através das suas obras, nem ninguém seria capaz de lhe supor uma obra partindo das parcas informações biográficas. Uma semelhança relevante: ambos se suicidaram, embora no caso do autor português esta informação ainda não tenha sido confirmada. Uma diferença não menos relevante: da leitura dum romance de André Bernardes sai-se relativamente sóbrio.
Houve, é certo, em uma ou duas revistas literárias relativamente desconhecidas, tentativas de ler, no romance Sob as pedras da calçada, a praia, pormenores biográficos, mas como um desses artigos colocava A. B. nas revoltas estudantis de Paris e o outro colocava-o na Universidade de Berkeley, nenhuma das hipóteses foi levada a sério. Além disso, esse quarto romance desenrola-se durante a Guerra da Crimeia e a expressão sob as pedras da calçada, a praia parece referir-se, simplesmente, à pequena localidade, central na obra, cujas frágeis habitações tinham sido construídas sobre a areia de uma das inúmeras baías da Crimeia. Entretanto, na blogosfera, corre que A. B. nunca esteve nem em Paris, nem na Califórnia, nem na Crimeia.