Vi, ontem, em "Sócrates como nunca o viu", o Primeiro Ministro a citar «O Sentimento dum Ocidental», do Cesário Verde, a propósito dos dias cinzentos, da nostalgia e do Tejo. Com isto, José Sócrates logrou alcançar dois objectivos que há muito perseguia: subir na consideração dos portugueses e lixar o Luís Filipe Menezes, a quem, hoje, em entrevista do mesmo formato, e, por exemplo, a propósito das querelas internas do seu partido, não restam senão três alternativas convincentes: ou cita Camilo Pessanha («Chorai arcadas / Do violoncelo! / Convulsionadas, / Pontes aladas / De pesadelo...»), ou cita Teixeira de Pascoaes («Sou o homem de si mesmo fugitivo; / Fantasma a delirar, mistério vivo»), ou cita António Nobre («Tísicos! Doidos! Nus! Velhos a ler a sina! / (...) / Reumáticos! Anões! Delíriums-trémens! Quistos!»).
Desconfio que vai citar Pessoa («Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena) e deitar tudo a perder – alguém que lhe diga que os portugueses estão fartos de clichés (não desfazendo do Pessoa, que é o maior, mas se há alguém a quem se aplica uma construção do estilo há mais Pessoa para além destes versos é ao Pessoa, perdoe-se-me a repetição).