Eu trabalho numa organização, ou melhor, numa mega-organização, que tem os seus departamentos, de acordo com um organigrama pré-estabelecido e as planificações dos trabalhos. Somos bons, sossegados mas proactivos, temos recursos, objectivos, projectos, actas, pareceres, relatórios, resultados e uma máquina de tirar cafés bastante aceitável (La Cimbali). Trabalhamos em rede, passamos o dia a fazer ligações (e, para variar, uma vez ou outra, hiper-ligações), estamos todos ligados (linkados... online...) e monitorizamo-nos de forma efusiva (fumamos um cigarro no fim). Ah! Também temos líderes! Líderes que nos conduzem e que têm uma autoridade que conquistaram com naturalidade e clara superioridade face a todos os outros. Quando acabamos o dia de trabalho, dobramo-nos e vamos para o contentor adequado, para a reciclagem (eu para o verde — uma garrafa é sempre uma belíssima companhia de fim de dia, embora também tenha de aturar os frascos de cenas pirosas e mal cheirosas tipo as salsichas). A nossa organização passou os testes da ASAE, é avaliada interna e externamente e tem certificação para a qualidade e para a assepsia. Graças a ela, eu nunca estou só e é tão bom não estar só no mundo, a solidão assusta-me. E, sobretudo, não me sinto Eu, sinto-me Nós, mas sem esquizofrenia, há lá felicidade maior?