"Aristóteles disse que só os humanos conseguem fechar os olhos e continuar a ver o mundo à sua volta" – ouviu ele, e esta ideia não lhe saiu mais da cabeça.
Fechou os olhos e viu todos os homens à sua volta com os olhos fechados e os mundos de cada um à volta deles, num rodopio sem paz, a sugar-lhes os olhos. Abriu os olhos, assustado, e viu todos os homens do mundo, assustados e de olhos bem abertos. Apercebeu-se de que, afinal, isso estava a ser imaginado e que, portanto, ainda devia ter os olhos fechados e voltou a fechá-los e a abri-los várias vezes, até acertar, mas desconcentrou-se e nunca mais soube se tinha os olhos abertos ou fechados, como quando fallta a luz e nós, por distracção, continuamos a acender e a apagar interruptores e nunca sabemos se vamos dar conta ou não de que a luz voltou.
De
João a 13 de Março de 2009
Imagino que seja, como qualquer dúvida deste tipo, uma dúvida perturbadora.
De ch a 14 de Março de 2009
o título é lindíssimo.
não sei se o aristóteles tem razão ou não . o que é "humano"? um chimpanzé é humano? vejo tantos humanos a agir como chimpanzés... não sabia da técnica de apagar e acender interruptores quando a luz falta mas deve ser lixado. eu acendo uma vela...
adorei o post e parabéns pelo blog.
Já li imensas vezes este várias vezes(e os outros tb)!
brilhante!
somos demasiado interruptores, de facto!
Obrigada, ch, obrigada, jo zepin! :)
De
Moyle a 17 de Março de 2009
gostei particularmente da passagem em que vertigem lhe suga os olhos.
não tem nada de "gore" esta preferência, é apenas por lembrança daquela sensação de terror por se estar a olhar o abismo e de terror por não se deixar de olhá-lo.
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