"Aristóteles disse que só os humanos conseguem fechar os olhos e continuar a ver o mundo à sua volta" – ouviu ele, e esta ideia não lhe saiu mais da cabeça.
Fechou os olhos e viu todos os homens à sua volta com os olhos fechados e os mundos de cada um à volta deles, num rodopio sem paz, a sugar-lhes os olhos. Abriu os olhos, assustado, e viu todos os homens do mundo, assustados e de olhos bem abertos. Apercebeu-se de que, afinal, isso estava a ser imaginado e que, portanto, ainda devia ter os olhos fechados e voltou a fechá-los e a abri-los várias vezes, até acertar, mas desconcentrou-se e nunca mais soube se tinha os olhos abertos ou fechados, como quando fallta a luz e nós, por distracção, continuamos a acender e a apagar interruptores e nunca sabemos se vamos dar conta ou não de que a luz voltou.