Depois de 16 anos a viver em grutas e cavernas escavadas por si, o homem decidiu deixar-se apanhar. Puxou do caderninho que sempre o acompanhara e mostrou às autoridades a complicada equação cujas soluções ocupavam 4 folhas A5. As autoridades, humildes, revelaram não ter competência para avaliar o acerto das contas e chamaram os Matemáticos. Os Matemáticos, prudentes, afirmaram não ter competência para avaliar o acerto dos postulados e chamaram os Filósofos. Vieram os metafísicos, os epistemólogos, os éticos e os lógicos. Ao nono dia de reunião, afirmaram: "Não há dúvida, os cálculos estão correctos. 5700 dias a viver como viveu equivaleram aos 2750 dias que lhe faltavam cumprir na prisão quando fugiu. Hesitámos no valor a atribuir ao rádio, mas considerámos que tinha tanto de reconfortante como de alucinante, baseando-nos nos relatos dos homens de Zaruom que, enlouquecidos, partiram os rádios para beijar os lábios que lhes falavam".