O rolo de músicas caiu devagar na água do lago parada há muito tempo. Primeiro, enquanto se aproximava, encantou-a com as sua melodias e fê-la rir com as insuspeitas combinações que as palavras, retiradas das músicas a que pertenciam, construíam. Quando, por fim, tocou a sua superfície, transformou-a em fogo. A água já conhecera muitas coisas belas: as cores dos pássaros, a sombra dos arvoredos, a calma adormecida do estio, o eco das montanhas... mas nada se comparava ao que conhecia agora, que lhe retirava o oxigénio, incendiava o hidrogénio e a revolvia por dentro. A música beijou a água e a água ficou mais doce, mais densa, mais água.
E as músicas? Viram-se espelhadas na água e finalmente reconheceram a sua beleza.