No deserto o tempo esteve quase sempre escaldante.
Os sons chegavam-nos abafados, soprados
como se proviessem de muito longe
(de corpos inclinados para a frente, a flutuar)
e batiam-nos na cara em baforadas leves e encorpadas.
Comemos raízes e bebemos uma água barrenta durante dias.
Dormimos, enrolados em lençóis, em cima da terra
à procura da humidade, escondida, do mundo.
É provável que numa noite os astros nos espreitassem
conjurando sobre o nosso destino
porque o que é certo é que acordámos
e estávamos tão mortos quanto se pode estar
pelo que nos é dado conhecer, que não é muito.