Se comprar uma casa fosse apenas comprar um sítio para viver, já teria tomado uma decisão.
Ao longo da sua vida viu milhares de casas, tomando como base de cálculo a média de uma, duas por semana. Quando alguma lhe agradava, voltava lá e tirava medidas. Quando alguma lhe agradava num nível de agrado superior, pedia à agência imobiliária para passar lá a noite – não que acreditasse em energias ou vibrações, mas era muito importante conhecer os ruídos e os ritmos do prédio. Uma vez chegou a alterar a morada em todos os seus documentos pessoais e junto de todas as instituições que lhe escreviam (desistiu do negócio em semanas).
Nunca chegou a comprar casa nenhuma e durante a sua longa existência viveu apenas em duas: na dos pais e na que os pais lhe compraram.
Se comprar uma casa não fosse comprar a própria pele e músculo de que somos feitos, a carne, o osso, o espelho, já teria tomado uma decisão. Assim era difícil. Não há de nós à venda em quantidade suficiente e a preço acessível. Restava-lhe passar, com o entusiasmo e a esperança de sempre, para a casa seguinte.
De
joão a 6 de Abril de 2010
talvez alugar... como se de um fraque ou um traje de Carnaval se tratasse, uma pele mais efémera.
Hum... tu ouves um Salieri em vez de um Mozart? Não... até o Pushkin e o Rimsky-Korsakov que eram pessoas de bem mas talvez um tudo ou nada distraídas sabem isso.
Penso que não era de efemeridade que esta pessoa andava à procura... malgré-nous...
De
joão a 6 de Abril de 2010
Nunca ouviria Salieri, claro. Não só pela famosa cena do filme de Milos Forman, mas principalmente pelo comentário, que desde logo me obrigou a achá-lo como um sucedâneo.
(Excelente escolha musical ali ao lado)
De
Moyle a 6 de Abril de 2010
é pena.
De Sónia a 6 de Abril de 2010
Post em palimpsesto... ou melhor, em mosaico.
Pois, não há de nós em quantidade suficiente, nem à venda, nem à troca, nem para peças.
Às vezes, a nossa própria irrepetibilidade é uma chatice. Para não mencionar o universo "casa pronta"!
;-)
O universo casa pronta dava outro post. Enternece-me tanto que o estado tome conta de nós desta forma carinhosa e meiga como um grande pai...
De
Moyle a 6 de Abril de 2010
ou um grande irmão :)
De Emanuel a 6 de Abril de 2010
Sou solidário, sofro muito com os ruídos. Mas uma noite é pouco. Eu queria uma imobiliária assim: "Se não estiver satisfeito, tem 30 dias para devolver a casa."
De Sónia a 7 de Abril de 2010
Eu queria uma vida assim...
Bom, Emanuel, nesse caso, menos que os 90 dias que a IKEA dá para experimentar os móveis é muito pouco para uma casa...
De Emanuel a 7 de Abril de 2010
É verdade, mas também não queria fazer-me de esquisito... :D
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