Se comprar uma casa fosse apenas comprar um sítio para viver, já teria tomado uma decisão.
Ao longo da sua vida viu milhares de casas, tomando como base de cálculo a média de uma, duas por semana. Quando alguma lhe agradava, voltava lá e tirava medidas. Quando alguma lhe agradava num nível de agrado superior, pedia à agência imobiliária para passar lá a noite – não que acreditasse em energias ou vibrações, mas era muito importante conhecer os ruídos e os ritmos do prédio. Uma vez chegou a alterar a morada em todos os seus documentos pessoais e junto de todas as instituições que lhe escreviam (desistiu do negócio em semanas).
Nunca chegou a comprar casa nenhuma e durante a sua longa existência viveu apenas em duas: na dos pais e na que os pais lhe compraram.
Se comprar uma casa não fosse comprar a própria pele e músculo de que somos feitos, a carne, o osso, o espelho, já teria tomado uma decisão. Assim era difícil. Não há de nós à venda em quantidade suficiente e a preço acessível. Restava-lhe passar, com o entusiasmo e a esperança de sempre, para a casa seguinte.