Quando dois homens lutam, é difícil dizer se o que ganha o faz porque ganha ou o faz porque o adversário perde. Não, não são duas faces da mesma moeda, são dois mundos distintos. Perguntem a um e a outro, no final do combate, como se sentem; verão que nenhum deles menciona o outro ou sequer pensa nele, as lutas travam-se no interior de cada um, estando eles alheados de tudo o que é externo – o adversário está fora, ainda que mesmo em frente.
O mesmo se pode dizer do amor. Quando um homem se levanta da mesa do café, cansado de esperar, terá sido ele que desistiu de esperar ou terá sido a mulher que desistiu de vir?
Num caso e noutro era útil que existisse um relógio, mundial, para registar com precisão o momento em que o homem deixa de lutar e passa a perder, o momento em que o homem continua a lutar e passa a ganhar e o momento em que o homem e a mulher desistem de acreditar; um juiz verificaria qual o segundo primordial e quem ditou a sorte das coisas.
De
joão a 8 de Abril de 2010
Nunca ninguém perde... nem no amor.
Já dizia o outro (Fernando) através do seu outro (Álvaro)
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. "
Adoro! Toma, só para ti! ;-)
POEMA EM LINHA RECTA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semi-deuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
De
joão a 8 de Abril de 2010
Assim todo, de cor, já seria mais difícil recordar.
De
Moyle a 8 de Abril de 2010
"quem ganhou, ganhou porque alguém perdeu" (diz o adolfo luxúria n' o combate). de qualquer forma, estás a negar a possibilidade da simultaneidade absoluta que, seja apenas por argument's sake, é uma possibilidade.
De
Moyle a 8 de Abril de 2010
respondendo a título, let's play master and servant (mas nas vozes fofinhas dos nouvelle vague) :)
Hum... só mesmo por argument's sake... mas estraga-me a história, pá!
Acho que era "Quem ganhou ganhou o que alguém perdeu", o que ainda é melhor do que "porque alguém perdeu". O Adolfo é o maior. Acaso também viste os Cantos de Maldoror? ("Acaso..." compõe muito uma pergunta)
Nem vou comentar o "let's play master and servant"... ;-)
De
joão a 8 de Abril de 2010
Isso faz lembrar a história do pai que dizia ao filho para se levantar cedo, porque quem se levantava cedo só ganhava, como o vizinho que tinha acordado cedíssimo e "já tinha encontrado uma nota de vinte euros" ao que o filho respondeu: "mais cedo se levantou aquele que a perdeu."
(Claro que isto pode não ter nada a ver, mas era só para dizer que não conhecia esta música dos NV e que é fixe... e elas são mesmo fofinhas... posso atestar isso da mais baixinha que já vi ao vivo)
De
Moyle a 9 de Abril de 2010
João,
eu falava nas vozes mas estou a ver (no youtube) onde queres chegar.
De
Moyle a 9 de Abril de 2010
lembras-te da história da mosca e da sopa (sei piores que essa, mais vívidas)? é um mau hábito. no harm intended :)
quanto ao dolfinho, yah, tens razão, é mesmo isso. é o que dá escrever sem ir confirmar as fontes :)
por acaso não vi mas fiquei com tanta curiosidade que comprei o Lautréamon, embora ainda esteja em fila de espera (eu compro livros à catrefada e depois primeiro que os leia... enfim, idiossincrasias, com ênfase no "idio").
no comments then;)
De Emanuel a 8 de Abril de 2010
Assim de repente parecia algo a ver com Disney ou assim, mas uma googlada mais tarde parece-me agora um pouco menos sério. Aqui aprende-se. Refiro-me à patafísica. Estes gauleses são loucos...
:-) Bem-vindo, então, à 'patafísica. Enjoy the trip!
Comentar post