Quando dois homens lutam, é difícil dizer se o que ganha o faz porque ganha ou o faz porque o adversário perde. Não, não são duas faces da mesma moeda, são dois mundos distintos. Perguntem a um e a outro, no final do combate, como se sentem; verão que nenhum deles menciona o outro ou sequer pensa nele, as lutas travam-se no interior de cada um, estando eles alheados de tudo o que é externo – o adversário está fora, ainda que mesmo em frente.
O mesmo se pode dizer do amor. Quando um homem se levanta da mesa do café, cansado de esperar, terá sido ele que desistiu de esperar ou terá sido a mulher que desistiu de vir?
Num caso e noutro era útil que existisse um relógio, mundial, para registar com precisão o momento em que o homem deixa de lutar e passa a perder, o momento em que o homem continua a lutar e passa a ganhar e o momento em que o homem e a mulher desistem de acreditar; um juiz verificaria qual o segundo primordial e quem ditou a sorte das coisas.