(foto Clara Umbra)
Imagino este momento à meia-noite na floresta:
Outras coisas vivem
Para além da solidão do relógio
E desta página em branco onde os meus dedos se movem.
Pela janela não vejo estrelas:
Algo mais próximo
Mas fundo na escuridão
Vai entrando na solidão:
Frio e delicado como a escura neve,
Um nariz de raposa aflora um caule, uma folha:
Dois olhos fazem um movimento breve
E de novo breve, breve, breve
Deixa claras impressões na neve,
Entre as árvores. Hesitante,
Uma sombra avança devagar,
Acoitada em troncos e buracos,
A sombra de um corpo que ousa revelar-se
Através das clareiras, um olho,
Uma crescente verdura escurecente,
Brilhantemente, concentradamente
Ocupada a tratar da vida
Até que, com um súbito e intenso odor a raposa,
Entra no buraco negro da cabeça.
A janela ainda está sem estrelas; tiquetaque, faz o relógio,
A página está impressa.
Ted Hughes, The Hawk in the Rain